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Ana Penso Onde: Cuitiba • 21 de Maio - 2020 |

Mudando de lentes para enxergar o futuro

Há poucas semanas o mundo estava correndo em um ritmo tão acelerado que um bom título nós seria: Sociedade do Hiperconsumo. Tudo era relacionado à algum tipo de money trade, visando sempre o lucro máximo. Consumia-se em qualquer parte, em todo lugar e todo momento. De hipermercados, passando por farmácias, postos de gasolina e todo tipo de marketplace e aplicativos em nossos celulares. Todo o caminho acabava em nossos números de cartão de crédito. Há poucas semanas o mundo estava correndo em um ritmo tão acelerado que um bom título nós seria: Sociedade do Hiperconsumo. Tudo era relacionado à algum tipo de money trade, visando sempre o lucro máximo. Consumia-se em qualquer parte, em todo lugar e todo momento. De hipermercados, passando por farmácias, postos de gasolina e todo tipo de marketplace e aplicativos em nossos celulares. Todo o caminho acabava em nossos números de cartão de crédito. 

 

Consumimos para aliviar nossa ansiedade, nosso sofrimento, nossas angústias, insatisfações e infelicidades. Nunca trabalhamos tanto, muitas vezes em mais de um emprego. Cansados, chegamos em casa e o sofá era nosso repouso absoluto em parceria com a hipnótica smart tv - cheia de anúncios e mensagens ocultas - outras nem tanto, sobre o quanto seríamos mais felizes possuindo isso ou aquilo. Inflamados pela vontade de consumir, vamos às lojas. Adquirimos muitas vezes o que não precisamos, para no dia seguinte, voltar ao trabalho; para poder pagar por tudo aquilo que compramos.Assim o ciclo se renova todos os dias!

 

“O enfraquecimento dos controles coletivos, as estimulações hedonistas, a superescolha de consumo, tudo isso contribui para criar um indivíduo frequentemente pouco armado para resistir tanto às solicitações de fora quanto aos impulsos internos.” Gilles Lipovetzky

 

A sociedade do hiperconsumo nasceu na década de 1950, com a explosão das indústrias, através do estouro que foi a nova família americana - que incentivada pela publicidade na tv e movimentações do governo passa a comprar cada vez mais produtos que antes não precisavam. Como se deu essa explosão do consumo? Edward Bernays, sobrinho de Sigmund Freud percebeu que a psicoterapia de seu tio poderia alcançar outros patamares. Se as pessoas têm uma necessidade profunda de serem amadas, admiradas e de pertencimento; Bernays fez um link disso com as compras, criando a necessidade compulsiva de consumo, dizendo que nossa transformações estão sempre a uma compra de distância de nós. Isso foi poderoso, nascendo assim a publicidade.A partir deste momento a grande roda hedonista nunca mais parou de funcionar e crescer.O crescimento passa a ser um combustível da sociedade. Crescer independente do quanto sacrificamos as pessoas e o planeta. Medimos o sucesso pelo PIB de um país, sem mensurar o uso dos recursos naturais, educação e dignidade humana. Na França, por exemplo, o PIB dobrou desde 1975, mas não podem afirmar que são o mesmo tanto felizes. A felicidade no planeta não acompanhou o aumento do consumo de energia, riqueza coletiva e nível social. As pessoas desejam ganhar sempre mais dinheiro, para acompanhar o ritmo do homo economicus, mas o grau de felicidade nunca acompanha.

 

 


Precisamos fazer as perguntas certas, para podermos produzir respostas eficientes.

• Como está a dignidade humana nas mais diversas sociedades?

• Nossos filhos terão acesso à água no futuro?

• E quanto às mudanças climáticas?

 

“Precisamos repensar nossas respostas porque as que demos no século 20 estão desatualizadas, não correspondem ao mundo que vivemos.” Kate Rathworth

 

Então somos atingidos como uma bomba pelo surto e crise mundial provocada pelo COVID-19. Milhões de pessoas reclusas em suas casas, sem poder ir aos shoppings, lojas de rua, shows, teatros, parques e tudo mais que fazíamos fora de casa. Junto com o isolamento somos acometidos por uma enorme crise econômica. Empresas demitindo em massa, comércio sem faturar e o consumo, motor de arranque da sociedade congelou.

 

De repente o mundo embarca em uma onda de colaboração. Pessoas sendo solidárias em atitudes colaborativas, organizações oferecendo conteúdo antes cobrado de forma gratuita, trabalho voluntário, doações enormes e uma queda astronômica no consumo em geral.

 

Nossa relação com o dinheiro mudou. Os dutos de Veneza estão límpidos, sismógrafos conseguem perceber os vibrações da natureza que antes não poderiam ser medidas por conta de nosso barulho, presença de animais silvestres no entorno próximo das cidades, qualidade do ar em crescimento.
Estamos em pausa e isso nos força a olhar para dentro de nós mesmos. Repensar valores. Resignificar.
Vivemos um momento difícil mas ao mesmo tempo infinitamente perfeito.

 

Temos, como nunca antes na história moderna, a oportunidade de mudar de direção. Expandir nossa consciência sendo mais ponderados em nossas ações. Pensar no bem da comunidade - não apenas nas vantagens pessoais. O egoísmo pode finalmente ser substituído pelo gentil e sustentável propósito de atender às necessidades de todos levando em consideração os recursos finitos do planeta. Isso não significa que iremos passar a viver de escambo (o que é algo bacana para momentos de recessão) e esquecer o crescimento econômico. A diferença é que temos a oportunidade de sermos competitivos e profundamente colaborativos. Nosso crescimento econômico deve ser equilibrado com o uso de nossos recursos naturais. Pensar que nossos recursos naturais são ilimitados assim como nossa ganância é um despropósito.

 

É hora de voltar a pensar no ócio criativo de Domenico de Masi. Em diminuir o ritmo. Em repensar o valor que damos ao dinheiro. No que nos move verdadeiramente. Em como somos responsáveis pelo nosso planeta e finalmente construirmos um senso coletivo.

 

Harmonia entre economia, bem estar das pessoas e equilíbrio do planeta. Está bem à nossa frente. É hora de virar o jogo. Não podemos mais viver o hiperconsumo pois isso vai nos levar à falência em um futuro nada agradável. Vamos viver o presente com mais consciência, assim deixando um legado às próximas gerações.

 

A mudança também atinge as organizações, que têm a obrigação de mudar o universo do trabalho, parte importante da transformação.

 

“Você pode avaliar uma organização pelo número de mentiras que precisa contar para fazer parte dela.” Parker Palmer

 

Fazer parte diz respeito à propósito. Consecutivamente diz respeito à acreditar. Mais do que nunca nosso niilismo social precisa acreditar e o COVID-19 nos trouxe a oportunidade.

 

Vamos reprojetar o planeta? O Design e a arte podem ser veículos poderosos para essa mudança.

 

Confira o vídeo de Jason Silva:

 

 

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