Um objeto de madeira é uma história sobre o tempo. Vem de uma árvore que esteve no mundo por um bom período, e nos conta um pouco sobre nós mesmos, sobre o nosso lugar, nossa ancestralidade. Foi justamente a partir do passado que nasceu um artista na família Sokolovicz. “Quando meu pai andava pela floresta, dizia que toda árvore olhava para ele”, contou seu Antônio para o neto leonardo - que ainda estava na fase de produzir móveis de madeira na oficina do avô - ferreiro e torneiro mecânico, construtor de todas as coisas.

Depois de uma faculdade incompleta de Design, Leonardo era constantemente incentivado pelo avô a trabalhar seu interesse natural pela madeira. “Em um de nossos habituais passeios por ferro-velhos encontramos uma carcaça de torno e ele me disse ‘esse é o seu torno’. Não conseguimos comprar naquele dia, mas fui lá sem ele e o trouxe para a oficina. Meu avô parecia uma criança e esse foi meu primeiro equipamento”, conta Leonardo. Aos poucos, as peças foram ganhando personalidade. Um dia, leonardo começou a trabalhar em um pedaço de madeira que o avô achava que não servia para nada. “Quando mostrei o resultado pra ele, veio o espanto. Ele me ‘nomeou' artista e aconselhou que eu parasse de trabalhar com móveis. Foi o grande presente que ele me deu”, conta emocionado. A partir desse ponto, a história familiar pareceu se conectar com muita força e significado ao talento criativo do artista, combinação segue até hoje como linha mestra de seu trabalho.

O olhar treinado para extrair a melhor forma de cada peça às vezes parte do desenho natural, outras do instinto e da energia que flui no momento, mas todas são arregadas de afeto pelo ofício e pela história. Com um design limpo e elegante, a técnica apurada de leonardo com a madeira, seja ela torneada ou não, traz contemporaneidade para um material já bem valorizado pelo mercado. Além de ser vencedor de diversos concursos de tornearia em madeira, leonardo é uma das referências nacionais do design artístico autoral. Segundo ele, não existe madeira ruim. “Uma serve para uma coisa, outra pra outra. É como acontece com as pessoas, todas têm o seu valor”, explica.

Hoje ele considera que nem sempre é necessário entender uma peça (ou uma pessoa), o importante é sentir. “É difícil explicar. Às vezes eu não sei se o trabalho sou eu, ou se eu sou o meu trabalho”. Mas está tudo ali, é só olhar com (c)alma e atenção.