Em um momento em que a arquitetura e o design de interiores são frequentemente associados a reformas completas e substituição de materiais, vale lembrar que preservar também é criar. Incorporar elementos originais de uma construção — seja o tijolo aparente, uma parede descascada ou a madeira desgastada pelo tempo — é mais do que estética: é valorizar a história, a cultura e a identidade do lugar. Cada marca, textura e imperfeição carrega memórias e dá autenticidade ao projeto, criando um diálogo entre passado e presente.

 

Um bom exemplo vem da CASACOR Bahia 2025, que ocupa a Casa Nossa Senhora das Mercês, um dos edifícios mais antigos de Salvador. Com quase três séculos de história e já tendo sido convento e colégio feminino, o espaço abre suas portas pela primeira vez desde que encerrou as atividades em 2022. A escolha dos profissionais de arquitetura e design foi, em muitos casos, preservar e destacar as características originais do casarão, transformando-as em parte essencial da proposta de cada ambiente.

 

Acompanhe a seguir.

 

 

Rodrigo Rodrigues integrou dois antigos quartos por meio de um grande arco. A parede de tijolinhos aparentes, preservada, serve de base sensorial e se harmoniza com mármore, madeira e vidro. Ambiente Estúdio Judite.

 

 

 

No Ateliê de Tebas, João Gabriel manteve a parede rústica de adobe como peça-chave, conectando memória e resistência negra a um projeto de cores vibrantes.

 

 

 

Com piso, teto e paredes descascadas originais preservados, Gabriel Magalhães criou um ambiente onde passado e futuro se encontram, inspirado pelo piso bicolor que orientou a marcenaria. Ambiente Casa Madre.

 

 

 

O Lavabo Terra e Sal, assinado por Andressa Mâtos, traz paredes e piso em cimento queimado terracota, dialogando com peças náuticas e esculturas de barro, mantendo a rusticidade em evidência.

 

 

 

Márcio Davi valorizou paredes e colunas descascadas para reforçar a atmosfera histórica de um bar inspirado nos speakeasies dos anos 1920, com iluminação suave e materiais texturizados. Ambiente Bar Secreto.

 

 

 

Daniela Agulha e Luiza Gaspar mantiveram elementos originais ao transformar antigos quartos de clausura em um espaço de acolhimento ligado à capela, onde a parede descascada ao fundo reforça a conexão com a história do prédio. Ambiente Living Vitória-Régia.

 

 

 

Gabriel Gois usou as paredes rústicas originais como cenário para obras de arte nordestina, transformando o espaço em um tributo à identidade cultural. Ambiente Atelier Acervo Arte e Bossa.

 

 

 

Grazi Costantino e Victoria Sales valorizaram texturas e cores ligadas à história do imóvel, com destaque para a parede descascada, reforçando a conexão entre memória e criação artesanal. Ambiente Ateliê Liukalu.

 

 

 

Hugo Ribeiro aproveitou o piso centenário e o forro de madeira já existentes, compondo um ambiente com peças sacras, objetos de antiquário e uma atmosfera histórica preservada. Ambiente Lounge da Renúncia.

 

 

 

A Suíte Entrelaços, de Nath Veloso, preserva o piso de madeira original, cuidadosamente restaurado para manter sua textura natural e harmonizar com tons terrosos e fibras naturais.

 

 

 

Neto Cunha manteve esquadrias e piso de cerâmica originais, criando contraste com painéis em azul que dialogam com tons terrosos do restante do ambiente. Ambiente Café Lounge Florar.

 

 

 

O piso de madeira clara e escura, restaurado por Erla Ribeiro Visco e Gabriela Giannotti, inspirou o uso do pau-ferro na marcenaria e guiou a estética do Living Gourmet.

 

 

 

Na Adega Âmbar, Mariana Souza revitalizou piso e escada originais, unificando diferentes madeiras com acabamento e cor para garantir harmonia visual.

 

 

 

Cardoso Fattori Arquitetura revelou, no piso restaurado, tons quentes que conversam com o mármore e esquadrias em tom bordô, criando um conjunto acolhedor. Ambiente Cozinha Semente das Memórias.