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Arquitetura

Arquitetura que nasce da paisagem

Onde: • 19 de Novembro - 2025 | Fotos Peter Aaron/OTTO

Uso de alvenaria local, estuque branco e forma de implantação no terreno ajudam a manter a casa confortável no calor extremo.

Um terreno com desníveis costuma ser justamente o que muitos arquitetos mais apreciam. Além do desafio técnico — que exige estudo cuidadoso de fundações, pilares e contenções — a topografia irregular abre espaço para soluções mais criativas e arrojadas. Desenhar em declive permite trabalhar diferentes alturas, criar visuais inesperados, aproveitar melhor a luz e transformar as limitações do lote em potencial estético e arquitetônico. É nesse tipo de terreno que muitos projetos ganham personalidade e intenção.

 

Implantada no topo da montanha, a Casa Ambar acompanha o desnível natural para garantir estabilidade, vistas de 280 graus e ventilação constante. A construção branca reflete calor e mantém o interior mais fresco.

 

Construída no topo de uma montanha na ponta da Península de Baja, em Cabo San Lucas, no México, a Casa Ambar é um projeto que entende a força do território e responde a ele com precisão. Mais do que ocupar o terreno, a casa se encaixa em sua inclinação acidentada e faz da própria geografia o elemento que conduz temperatura, luz e circulação.

 

A localização extrema do projeto — onde o deserto encontra o oceano — reforça a importância da construção sustentável, do aproveitamento da luz natural e da orientação que favorece ventilação e conforto térmico.

 

O projeto é assinado pelo escritório americano Centerbrook Architects, fundado em 1975, que se apresenta como “uma comunidade de solucionadores de problemas criativos que trabalham juntos para promover a criação de lugares e a arte da construção.”

 

A estratégia da casa começa pelo gesto estrutural: a residência se aprofunda na terra para garantir conforto térmico natural em uma região marcada pelo calor intenso. O uso de alvenaria local — pesada, densa e revestida por estuque branco — cria um sistema de massa térmica que mantém os interiores frescos ao longo do dia, enquanto as superfícies claras refletem a luz e reduzem a necessidade de iluminação artificial.

 

 

O conjunto é complementado por placas solares instaladas no telhado, suficientes para suprir praticamente toda a demanda elétrica da casa. Em uma área onde água e energia são recursos sensíveis, cada solução técnica reforça o compromisso com a eficiência.

 

A piscina infinita acompanha o arco da casa e encosta no horizonte. O desenho longo e estreito funciona como espelho d’água e também como barreira visual, ocultando a cidade abaixo e destacando apenas o Pacífico.

 

A implantação elevada permite que o projeto revele uma de suas características mais marcantes: as vistas panorâmicas sobre o oceano, o deserto e a cidade. Para potencializar essa experiência, os arquitetos criaram um centro de circulação vertical que conecta os três pavimentos — da entrada no nível superior à área social no nível intermediário e aos quartos no nível inferior.

 

 

As portas de vidro dobráveis transformam sala, jantar e cozinha em um único ambiente integrado ao terraço. A luz filtrada pelo bambu desenha sombras móveis que mudam ao longo do dia.

 

Ao chegar ao pavimento principal, o visitante é recebido por um espaço que se abre completamente. Uma extensa parede de vidro dobrável transforma sala de estar, jantar e cozinha em um ambiente contínuo com o terraço frontal. Quando as portas se recolhem, interior e exterior se tornam um só — um gesto que acompanha a curvatura suave da fachada e enquadra o horizonte em diferentes direções.

 

 

As vigas metálicas sustentam a cobertura de bambu em diferentes ângulos, criando um ritmo visual marcado e reforçando a sensação de leveza — um contraste intencional com a massa estrutural da casa.

 

O volume curvo acompanha o terreno e amplia a sensação de abraço da paisagem. O guarda-corpo de vidro dissolve limites e traz o mar para dentro da arquitetura.

 

A trama do bambu — tradicional na região — cria um sombreamento suave, reduzindo a incidência solar direta e permitindo que os ambientes permaneçam iluminados sem superaquecimento.

 

A área íntima segue a mesma orientação cuidadosa. A suíte principal ocupa a ala oeste do pavimento mais baixo, enquanto os quartos de hóspedes e os ambientes de serviço se concentram na ala leste.

 

As escadas integram os três níveis e reforçam a ideia de que a casa é atravessada pela paisagem. De qualquer ponto, o Pacífico aparece como protagonista absoluto.

 

 

O avanço do terraço superior oferece sombreamento natural, e a piscina estreita acompanha toda a borda frontal, criando uma lâmina d’água contínua em direção ao mar — cenário onde é comum observar baleias em movimento durante determinadas épocas do ano.

 

 

O terraço inferior, voltado para o pôr do sol, revela a estratégia central dos arquitetos: moldar a casa ao terreno para conquistar privacidade, frescor e uma vista contínua que acompanha o movimento das marés.

 

 

 

A Casa Ambar sintetiza três intenções que raramente se equilibram com tanta precisão: respeito ao terreno, resposta climática e experiência estética. Cada decisão — da alvenaria local à estrutura solar, da implantação profunda ao desenho leve da cobertura — revela uma arquitetura pensada para durar no clima extremo de Baja, mantendo frescor, eficiência e beleza.

 

 

 

 

 

 

Serviço


Centerbrook Architects
centerbrook.com

 

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