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Arquitetura

Arquitetura no tempo de Tiradentes

Onde: • 21 de Abril - 2025 |

O estilo colonial, o barroco e a construção de uma identidade que atravessou fronteiras

Hoje, dia 21 de abril, o Brasil lembra Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes — mártir da Inconfidência Mineira e símbolo da luta por liberdade no país. Mais do que uma figura histórica, Tiradentes também nos conecta a um período marcante da nossa formação social, urbana e cultural: o Brasil colonial do século XVIII, quando as cidades cresciam ao redor das minas de ouro, e a arquitetura começava a ganhar traços próprios, mesclando influências europeias com soluções locais.

 

É nesse período que floresce o barroco brasileiro, um movimento artístico e arquitetônico herdado de Portugal, mas reinterpretado no contexto latino-americano, com materiais disponíveis, mão de obra local — muitas vezes indígena e escravizada — e um olhar adaptado ao clima e à geografia das regiões onde foi implantado.

 

O barroco nas Américas

 

O barroco nasceu na Europa, no final do século XVI, como resposta estética à Reforma Protestante. A Igreja Católica passou a investir em construções exuberantes, com forte apelo visual e simbólico, para reafirmar sua influência. Ao ser trazido para as colônias espanholas e portuguesas na América Latina, o estilo ganhou novas formas, cores e ritmos.

 

Capela dos Noviços em Recife, Pernambuco. Foto: Wilfredo Rafael Rodriguez Hernandez

 

No México, Guatemala, Peru, Colômbia e Brasil, vemos expressões únicas desse barroco tropicalizado: fachadas ricamente decoradas, igrejas imponentes em pedra e ouro, imagens sacras com rostos mestiços, além de uma adaptação urbana que se moldava ao relevo acidentado das cidades coloniais.

 

O caso brasileiro: barroco mineiro e arquitetura vernacular

 

No Brasil, especialmente em Minas Gerais, o estilo se manifesta tanto nas igrejas quanto nas casas, criando um panorama urbano coeso. Cidades como Ouro Preto, Mariana, Tiradentes, Sabará e Congonhas são exemplos vivos desse período, preservando a ambiência de séculos atrás.

 

: A arquitetura colonial brasileira da Fazenda Ponte Alta, atualmente transformada em pousada, em Barra do Iraí, no Rio de Janeiro. Foto Welliton Fonseca

 

As casas coloniais da época de Tiradentes seguem uma linguagem arquitetônica própria: fachadas simétricas com janelas alinhadas, molduras em pedra-sabão, telhados em quatro águas com beiral aparente, e cores vivas nas esquadrias e portas. Construídas com taipa de pilão, adobe ou alvenaria de pedra, essas casas eram planejadas para resistir ao tempo e ao clima, com soluções térmicas e espaciais que ainda hoje inspiram arquitetos que buscam simplicidade e conforto.

 

Interior da Pousada Convento do Carmo, em Cachoeira, Bahia. Foto Luciano Macêdo

 

Internamente, predominava a sobriedade: quartos pequenos, salas de estar voltadas para a rua, cozinhas recuadas e banheiros, quando existentes, separados da área social. Os pisos podiam ser de madeira corrida, pedra ou tijolo, e os móveis, em sua maioria, eram feitos artesanalmente com madeira maciça e detalhes esculpidos.

 

Celebrar o dia de Tiradentes é também uma oportunidade de valorizar esse legado material que sobrevive nas cidades históricas, nos detalhes das construções, e no modo como ocupamos e pensamos os espaços.

 

 

O legado da arquitetura colonial

 

A herança do barroco e da arquitetura colonial se estende por toda a América Latina, formando uma espécie de elo cultural entre os países que vivenciaram o domínio ibérico. Hoje, essas construções são reconhecidas como patrimônio histórico, mas também continuam a influenciar projetos contemporâneos — seja pela estética das fachadas, pelo uso dos materiais naturais, ou pelo resgate da relação íntima entre arquitetura e paisagem.

 

Prefeitura de Sabará enfeitada para a Semana Santa

 

Celebrar o dia de Tiradentes é também uma oportunidade de valorizar esse legado material que sobrevive nas cidades históricas, nos detalhes das construções, e no modo como ocupamos e pensamos os espaços.

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