A beleza do que não se vê
Onde: • 11 de Novembro - 2025 | Fotos Matheus KaplunFechada em relação à rua, a casa em Ponta Grossa se abre para dentro, revelando um interior contínuo, contemporâneo e cuidadosamente integrado.
Há casas que não se explicam de imediato. Se escondem do movimento da rua, deixam a fachada dizer pouco e revelam o essencial só depois do limiar. Esta residência em Ponta Grossa funciona exatamente assim. À frente, um volume quase silencioso. Lá dentro, uma arquitetura que respira luz, espaço e continuidade. O projeto é do escritório LRMV Arquitetos, de Leopoldo Roesler e Mariana Vaz de Oliveira, que trabalhou com a lógica de um refúgio protegido, mas luminoso.
Para um casal jovem com três filhos, os arquitetos organizaram os 835 m² em ambientes amplos, sociais integrados e circulação fluida, tudo protegido do exterior. O terreno triangular, com o norte voltado para o fundo, definiu grande parte das decisões. A fachada frontal, orientada ao sul, assume uma postura fechada. A posterior se abre em vãos generosos, captando luz e ampliando a ligação com o jardim.

Materiais brutos marcam a volumetria: ripado de concreto, pedra moledo, madeira, perfis metálicos escuros. A base pesada contrasta com os panos de vidro da face ensolarada. O resultado é uma presença arquitetônica firme, mas sem exageros.

Dentro, a paleta participa da luz. Brancos e cinzas aparecem em tecidos, mármores e painéis ripados. Pontos de dourado champagne aquecem a composição. A linearidade une estar, jantar, cozinha e área gourmet, criando um único gesto social que se estende até o jardim. As aberturas enquadram um paisagismo discreto, pensado para complementar a arquitetura sem roubar protagonismo.

A iluminação parte do piso, valorizando volumes e texturas. No interior, pontos focais substituem excessos. A escada helicoidal funciona como peça escultórica, leve, marcada pelo guarda-corpo de vidro. Nos dormitórios, a linguagem continua contida: móveis planejados, marcenaria precisa, cores sólidas.


Na área externa, a continuidade é total. O porcelanato claro reveste chão e piscina, criando um plano único. As esquadrias pretas costuram a relação entre dentro e fora. O paisagismo é sutil, deixando que a volumetria da casa se imponha com naturalidade.
O trabalho do LRMV Arquitetos se revela justamente nessa costura: proteger sem enclausurar, abrir sem expor. A casa encontra um ponto de equilíbrio entre resguardo e luz, criando um cotidiano silencioso, mas vivo, em que cada ambiente conversa com o jardim sem pressa e sem artifícios.
