O que é a reserva técnica e como ela funciona no mercado de arquitetura
Onde: • 19 de Novembro - 2025 | Fotos FreepikEntenda sua origem, como funciona hoje e o impacto na remuneração dos profissionais de arquitetura e design.
A reserva técnica — conhecida como RT — é uma prática comercial em que lojas e fornecedores repassam ao arquiteto um percentual sobre os produtos que ele especifica e que o cliente efetivamente compra. Embora seja parte do cotidiano do setor há décadas, o tema volta ao debate à medida que o mercado se profissionaliza e revisita seus modelos de relacionamento entre escritórios, clientes e parceiros comerciais.
Na prática, a RT funciona como uma comissão. Os percentuais variam conforme o segmento, normalmente entre 5% e 12%, podendo chegar a valores maiores em áreas específicas ou em negociações para grandes projetos. Não se trata de uma atividade técnica reconhecida pelos conselhos profissionais nem é regulamentada por lei federal. É uma relação comercial — e, por isso, interpretada de formas distintas dentro do setor.
A origem desse modelo está ligada à rotina de especificação. Historicamente, a “reserva” não era apenas uma remuneração, mas um valor destinado a cobrir eventuais diferenças de orçamento, substituições de produtos ou ajustes necessários durante a obra — uma espécie de margem de segurança que o profissional mantinha caso o cliente precisasse de trocas ou complementos. Com o tempo, essa dinâmica se transformou até chegar ao formato atual de comissão, ainda que algumas lojas e fornecedores mantenham práticas híbridas que resgatam parte dessa lógica inicial.
Ao longo do processo de projeto, o arquiteto concentra grande parte das decisões que orientam a compra. Ele pesquisa materiais, visita fornecedores, compara acabamentos, confere disponibilidade e acompanha o cliente nas escolhas. Para muitos escritórios, a RT surgiu como um reconhecimento desse tempo investido — especialmente em projetos residenciais, nos quais a etapa de especificação é extensa e interfere diretamente no custo final da obra.
Hoje, o mercado opera de maneira mais diversa. Muitos profissionais mantêm a RT como uma das fontes de receita do escritório. Outros preferem abolir a comissão e trabalhar exclusivamente com honorários fixos, taxas de administração ou serviços complementares contratados à parte. Há também modelos híbridos, nos quais a RT continua existindo, mas é tratada com transparência contratual, informada ao cliente desde o início.
Essa pluralidade revela algo importante: não existe um único modelo “correto”. O que muda é a forma como cada escritório interpreta sua relação com fornecedores e a maneira como estrutura a remuneração de seu trabalho. Para alguns, a RT é um mecanismo legítimo de valorização do tempo dedicado à curadoria de produtos. Para outros, separar a remuneração do processo comercial reforça independência e clareza na tomada de decisão.
Nos últimos anos, cresce o interesse por regras mais claras. A transparência aparece como fator de confiança entre clientes e profissionais — seja para explicar a existência da RT, seja para justificar modelos de honorários livres de comissionamento. Do lado dos fornecedores, a RT continua sendo uma ferramenta estratégica: fortalece vínculos, garante atendimento dedicado e estreita o relacionamento com quem está no centro das decisões de compra.
Conheça a pesquisa e os resultados
Para aprofundar a discussão, a Casa Sul realizou uma enquete com profissionais de arquitetura e interiores de Curitiba. Os dados ajudam a entender como a RT é percebida hoje e onde o mercado acredita que ela deve avançar.
1. Você considera a prática de Reserva Técnica (RT):
• Depende do contexto — 75%
A maioria vê a RT como uma ferramenta que exige critério e clareza, não como algo intrinsicamente certo ou errado.
• Ética — 12,5%
Profissionais que enxergam a comissão como reconhecimento legítimo do trabalho de especificação.
• Antiética — 6%
Uma minoria aponta conflito de interesses, sobretudo sem transparência.
2. Você já recebeu/recebe RT em seus projetos?
• Sim — 100%
Todos já tiveram contato direto com o modelo, o que evidencia sua presença estrutural no mercado.
3. A RT influencia sua escolha de fornecedores?
• Não — 65%
Para a maior parte, a decisão continua sendo técnica.
• Em alguns casos — 20%
Relações de confiança podem pesar, mesmo sem interferência direta.
• Sim — 12,5%
Pequena parcela admite influência mais clara.
4. O cliente deve ser informado sobre a RT?
• Depende da situação — 56%
A transparência varia conforme o perfil do cliente e o tipo de projeto.
• Sim — 25%
Grupo que defende total clareza.
• Não — 12,5%
Parte que acredita que a informação não altera o processo.
5. Na sua opinião, qual deveria ser o futuro da RT?
• Ser regulamentada — 69%
A maioria deseja regras formais para equilibrar expectativas e práticas.
• Permanecer como está — 12,5%
Para alguns, o modelo atual funciona.
• Ser transformada — 12,5%
Há quem veja necessidade de revisão.
6. A RT é uma fonte de renda importante para seu escritório?
• Sim — 87%
Especialmente entre autônomos e pequenos escritórios.
• Não — 12,5%
Escritórios com modelos fixos não dependem do comissionamento.
Mais do que uma prática isolada, a reserva técnica faz parte da engrenagem que sustenta a arquitetura como mercado. Compreender sua lógica — do surgimento aos desafios atuais — é fundamental para entender as dinâmicas comerciais que moldam o setor e as expectativas de um público cada vez mais atento à forma como as relações profissionais se estruturam.