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Branco é cor?

Onde: Curitiba • 08 de Dezembro - 2025 | Fotos Pantone / Divulgação

Cloud Dancer, a cor eleita pela Pantone para 2026, reacende um debate antigo sobre cor, neutralidade e escolhas estéticas

Branco é cor?
E o preto, afinal, é ausência de cor ou também pode ser considerado uma cor?

As duas perguntas parecem simples, quase escolares, mas voltaram ao centro do debate depois que a Pantone anunciou um tom de branco como a Cor do Ano para 2026. A escolha, inédita na história da instituição, provocou reações imediatas: de um lado, críticas sobre falta de ousadia e desconexão cultural; de outro, leituras que veem no branco um reflexo direto do momento que vivemos.

O tom escolhido, batizado de White Cloud Dancer, foi descrito pela Pantone como um branco aerado, equilibrado e etéreo — distante da ideia de um branco frio ou hospitalar. Trata-se de um tom suave, pensado para transmitir serenidade e leveza visual.

Segundo a diretora-executiva da Pantone, a escolha busca representar clareza e quietude em meio a um mundo cada vez mais barulhento e acelerado. A proposta seria sugerir um recomeço, uma espécie de “tela em branco” para a criatividade, funcionando como um reset cultural e estético.

A intenção é que o branco atue como uma base neutra e flexível, capaz de dialogar com diferentes tons, materiais e linguagens — tanto na moda quanto no design gráfico e nos interiores.

 

Antes da polêmica, vale voltar um passo.

Do ponto de vista físico, o branco resulta da soma de todas as cores da luz, enquanto o preto representa sua ausência. Já no campo da pintura, do design, da moda e da arquitetura, branco e preto são tratados como cores porque produzem efeito visual, interferem na percepção do espaço, dialogam com a luz e carregam significado. Ou seja, tudo depende do enquadramento — científico, cultural ou estético.

É nesse território que entra a decisão da Pantone.

Para 2026, a marca escolheu um branco específico, apresentado como leve, etéreo e equilibrado, associado a ideias de clareza, pausa e reorganização. Segundo a justificativa oficial, trata-se de uma resposta a um mundo saturado de estímulos visuais, excesso de informação e ruído constante. O branco surgiria, então, como um ponto de respiro.

A reação não demorou.

Entre os críticos, a principal acusação é a de que a escolha soa óbvia demais. Para muitos, o branco sempre esteve presente na moda, no design gráfico e nos interiores, o que faria da decisão algo pouco inspirador para um título que historicamente aponta direções e antecipa movimentos. Outros foram além e destacaram o peso simbólico da cor branca, lembrando que ela está longe de ser neutra em todos os contextos culturais e sociais. Nesse olhar, a Pantone teria falhado ao desconsiderar debates contemporâneos sobre representatividade e diversidade simbólica.

Mas há também quem veja a decisão por outra lente.

Para designers, arquitetos e profissionais que trabalham diretamente com espaço e materialidade, o branco nunca foi ausência — sempre foi ferramenta. É ele que potencializa a luz natural, evidencia volumes, valoriza texturas e permite que outros elementos se destaquem. Em vez de competir com o entorno, o branco cria fundo, silêncio e leitura. Nesse sentido, a escolha da Pantone seria menos uma aposta estética e mais um reflexo de comportamento: a busca por simplicidade em meio ao excesso.

Na arquitetura de interiores, o branco está longe de ser um conceito único. Não existe “o” branco, mas vários: quentes, frios, minerais, leitosos, naturais. Cada um reage de maneira diferente à luz, aos materiais e ao uso do espaço. Um mesmo branco pode parecer acolhedor em um ambiente e completamente impessoal em outro. Por isso, seu uso exige intenção e contexto — não é neutro, nem automático.

Talvez seja justamente aí que a polêmica encontre um ponto comum. A escolha do branco como Cor do Ano não fala de novidade cromática, mas de postura. Não aponta para o excesso, e sim para a redução; não propõe impacto imediato, mas permanência; não promete transformação rápida, e sim um retorno ao essencial.

No fim, a pergunta inicial continua válida. Branco é cor? Do ponto de vista técnico, cultural e projetual, sim. Mas talvez a questão mais interessante seja outra: quando o branco faz sentido — e quando ele deixa de ser escolha para se tornar ausência de reflexão?

Se a decisão da Pantone acerta ou não, o debate que ela provoca revela algo importante. Em tempos de estímulo constante, até o branco deixa de ser óbvio e passa a exigir posicionamento.

E isso, por si só, já diz muito sobre o momento que estamos vivendo.