Bar com alma antiga
Onde: • 21 de Novembro - 2025 | Fotos Andriy BezuglovA arquitetura revelada de um edifício de 100 anos transforma história em experiência.
No prédio centenário que abrigou o antigo Banco de Praga, na República Tcheca, um café-bar resgata a arquitetura original e a transforma em parte essencial da experiência. De dia, o espaço funciona como café; à noite, assume o clima de bar. Entre essas duas rotinas, permanece um mesmo propósito: preservar as marcas do tempo como documento histórico e incorporá-las ao uso contemporâneo.
Antes da intervenção atual, o imóvel já havia sido muitas coisas — inclusive um pequeno apartamento de um quarto. Sob camadas sucessivas de reformas, a equipe do escritório inglês Replus Bureau, encontrou um piso austríaco com mosaicos, oculto há décadas sob ladrilhos soviéticos. A superfície foi revelada e se tornou um dos elementos mais significativos do ambiente, assumindo seu valor como testemunho arquitetônico.
Outros achados reforçaram essa leitura do passado: a escada em espiral, os ladrilhos de banheiro, a pia e pequenas peças que estavam destinadas ao descarte. Tudo foi recuperado e devolvido ao espaço com uma função atual, sem esconder os desgastes que acumulam história. As escolhas fazem do interior um registro material de diferentes fases da cidade.
A proposta dos designers também desvia do repertório tradicional de cafés. Assentos na janela, uma mesa longa acompanhando o corrimão do segundo andar e outros pontos de permanência foram pensados para incentivar o visitante a circular e observar o prédio. A ocupação se adapta ao que a casa oferece, sem impor uma organização rígida.
Para manter o ambiente atemporal, a equipe combinou elementos envelhecidos com materiais que dialogam tanto com o passado quanto com o presente, como aço inoxidável e mármore. Nada brilha demais e nada parece recém-colocado — o projeto trabalha na fronteira entre o novo e o antigo, preservando a sensação de permanência.
A intenção declarada foi criar a impressão de que o bar sempre esteve ali desde o início do século 20, como se letreiros, mobiliário e materiais fossem fruto de continuidade, não de intervenção. A narrativa projetual parte da própria imaginação do lugar: um bar que teria atravessado décadas, recebido dandis e, cem anos depois, acolhe um público completamente diferente — mas igualmente interessado em viver a atmosfera que a arquitetura carrega.
Nesse encontro entre desgaste, memória e uso contemporâneo, a experiência não se constrói pela perfeição, mas pela autenticidade. O visitante entra e reconhece, no que o tempo marcou, uma forma de presença que não pode ser reproduzida artificialmente — e que hoje, mais do que nunca, é valorizada.