A nova iluminação arquitetônica
Onde: • 18 de Novembro - 2025 |A luz deixou de ser complemento e se tornou protagonista nos projetos contemporâneos, definindo volumes, atmosferas e a maneira como percebemos os espaços.
Nos últimos anos, a iluminação arquitetônica passou por uma transformação decisiva. O que antes era tratado como etapa final do projeto — limitada a luminárias pontuais e decisões tomadas já perto da obra — hoje ocupa posição central no processo criativo. Em casas, apartamentos e ambientes comerciais, a luz é pensada desde o primeiro traço, orientando escolhas de materiais, geometrias, alturas e até a forma como o mobiliário será percebido.
Essa mudança ocorre por um motivo simples: a luz organiza a experiência. A temperatura de cor define a sensação do ambiente; o direcionamento destaca volumes e cria camadas; as linhas contínuas desenham percursos; e a luz difusa suaviza superfícies, eliminando contrastes desnecessários. Em vez de iluminar por iluminar, os projetos atuais buscam construir atmosferas — ora cênicas, ora funcionais — que moldam a relação do usuário com o espaço.
As linhas de LED, por exemplo, deixaram de ser mero recurso decorativo e passaram a estruturar a narrativa espacial. Embutidas em sancas minimalistas, marcenarias ou painéis verticais, elas criam continuidade e estabelecem ritmos de sombra e brilho. Outro movimento crescente é o uso de luz focal para realçar texturas naturais, como pedras, tecidos e madeiras, valorizando suas imperfeições e profundidades. Em lavabos, cozinhas e áreas sociais, esse jogo de luz e sombra se tornou parte da própria arquitetura.
Ao mesmo tempo, profissionais especializados reforçam que projetar iluminação vai além de escolher luminárias: exige compreender quem vai habitar o espaço. Para a lighting designer Adriana Sypniewski, proprietária da Grey House, em Curitiba, o erro mais comum é desconsiderar as diferenças de uso entre os membros da família — ou, no caso de projetos comerciais, ignorar o público que aquela marca deseja atingir. Ela lembra que a luz provoca sensações variadas e precisa ser pensada para cada perfil de usuário, respeitando necessidades visuais, hábitos e rotinas.
Para ela, seguir essa ordem garante clareza: primeiro se determina o que iluminar e por quê, para depois escolher os equipamentos capazes de entregar esse resultado. Adriana explica que o projeto luminotécnico se organiza em quatro camadas que orientam a intenção desde o início: a luz geral, que estabelece o caráter do ambiente; a iluminação de destaque, que evidencia volumes e texturas; a luz de tarefa, aplicada onde é necessário reforço funcional; e a iluminação decorativa, quando há intenção de criar efeitos ou complementar a narrativa espacial. Essa estrutura, segundo ela, evita escolhas aleatórias e permite que cada camada cumpra seu papel dentro do conjunto.
Ela reforça ainda que a referência fundamental sempre será a luz natural. O ser humano foi feito para interagir com ciclos de dia e noite, e a iluminação artificial — quando bem planejada — deve respeitar esse comportamento, apoiando o ritmo biológico e criando ambientes precisos, envolventes e tecnicamente equilibrados.
A preocupação com o bem-estar também ampliou o debate. Temperaturas de cor mais quentes, entre 2700K e 3000K, ganharam espaço por sua capacidade de construir uma sensação mais acolhedora e menos técnica — uma resposta direta ao excesso de luz fria que marcou projetos de décadas anteriores. Em paralelo, cresce o uso de sistemas dimerizáveis, que permitem adaptar a intensidade ao horário e ao uso, aproximando a luz artificial do comportamento natural do dia.
Como definir a iluminação ao longo do desenvolvimento do projeto
A seguir, um roteiro técnico que mostra como a iluminação deve ser planejada em cada etapa — desde o conceito até a especificação final. Ele responde à dúvida comum: como prever pontos e tomadas se o projeto de interiores ainda não está pronto?
1. Estudo preliminar: o primeiro desenho da luz
– Definição de usos, fluxos e vocações de cada ambiente.
– Identificação das áreas que exigem luz focal ou banhos de luz.
– Mapeamento inicial para orientar o projeto elétrico.
2. Anteprojeto: estruturação do forro e dos circuitos
– Definição de alturas, sancas, recuos e possibilidades de embutir iluminação linear.
– Distribuição dos circuitos: geral, apoio, destaque e cênico.
– Construção do “esqueleto” da iluminação.
3. Projeto elétrico: tomadas, pontos e previsões técnicas
– Posicionamento de tomadas, interruptores e saídas elétricas.
– Planejamento de dimerização, automação e circuitos independentes.
– Ajustes posteriores se tornam refinamentos, não revisões estruturais.
4. Desenvolvimento do projeto de interiores: refinamento da luz
– Integração da iluminação com a marcenaria detalhada.
– Definição de leds embutidos, pontos internos e rasgos de luz.
– Adequação da intensidade e abertura de facho aos materiais escolhidos.
5. Especificação final: atmosfera e experiência
– Escolha das luminárias, temperaturas de cor e potências.
– Construção da narrativa luminosa: o que destacar, suavizar ou revelar.
– Equilíbrio entre técnica, intenção e sensação.
6. Obra e ajustes: o olhar da prática
– Conferência de sancas, distâncias e profundidades.
– Ajustes finos in loco: reposicionamentos mínimos e regulagem de dimerização.
– A iluminação se completa no uso, quando o espaço ganha vida no cotidiano.
Luz em detalhes
A seleção de imagens a seguir mostra como cada decisão luminotécnica dos projetos — da direção do facho à temperatura de cor — molda a percepção dos ambientes. Uma leitura visual das camadas de luz aplicadas à arquitetura, onde técnica, intenção e sensação aparecem de forma concreta em cada cena.
Iluminação linear que organiza a cozinha e destaca materiais com suavidade. Projeto Labra Arquitetos | Foto Ana Helena Lima.
O nicho iluminado no fundo do móvel cria profundidade e reforça a leitura vertical da composição. Projeto Labra Arquitetos | Foto Ana Helena Lima.
A linha de luz contínua conduz o percurso e reforça a geometria do corredor, criando profundidade e ritmo visual, além de destacar os quadros. Projeto Moca Arquitetura | Foto Inacio Aronovich.
A iluminação externa destaca volumes e superfícies, reforçando a leitura da arquitetura. Projeto Kem Studio. Foto Matt Kocourek.
A luz de temperatura quente cria um clima intimista, suavizando o espaço ao redor da mesa. Projeto Mac Design Studio | Foto Lynden Foss.
A luminária funciona como luz de apoio, reforçando a camada que direciona o olhar e complementa o estudo luminotécnico da sala. Projeto Mac Design Studio | Foto Lynden Foss.
Os abajures trazem reforçam a sensação de descanso e conforto. Projeto Dinamita Taller | Foto Bruno Rezza.
A luz pontual acima da mesa e o LED nas prateleiras criam um canto acolhedor, com profundidade e destaque suave. Projeto Dinamita Taller | Foto Bruno Rezza.
A luz direcionada compõe a narrativa visual ao enfatizar a escultura no painel, conduzindo o olhar para o que o projeto quer destacar. Projeto Studio Pacific | Foto Jason Mann.
Serviço
LABRA ARQUITETOS
www.labra.arq.br
MAC DESIGN STUDIO
https://www.macdesignstudio.com.au/
KEM STUDIO
www.kemstudio.com
STUDIO PACIFIC
studiopacific.co.nz
NEA STUDIO
http://www.nea.studio